Haveria um grande evento em Nova Roma e no Acampamento Júpiter e muitos meio-sangues e legados estavam envolvidos na organização do mesmo. Eu havia sido uma das escaladas para auxiliar na preparação e quando vi que fazia parte da equipe inicial de propaganda e divulgação eu franzi o cenho. Eu não fazia a menor ideia de como iria fazer aquilo, afinal jamais havia trabalhado com divulgação antes, porém estava disposta a aprender... O problema seria que não teria como inventar qualquer desculpa naquele período para me encontrar com V fora das fronteiras do Acampamento. Só porque estava planejando convidar ele para algo como alguma ilha isolada em um canto qualquer — talvez no Mar de Monstros, se não achasse nenhuma outra ilha razoável — ou qualquer lugar meio isolado, como alguma ruína ou cidade abandonada.

Fomos instruídos a trabalhar juntos se possível, porém tínhamos liberdade total para preparar como fosse mais adequado os materiais para divulgação e parti para minha forja para trabalhar mais adequadamente. Após adentrar no local, me deparei com um filho de Nox sentado em uma das poltronas. Seus cabelos eram escuros e ondulados, cobrindo a orelha e portadores de um aspecto um tanto bagunçado. Suas vestimentas eram negras, deixando os braços à mostra e parte do peitoral e barriga também. Apoiado na poltrona, estava bengala-espada e via um vulto escuro nas sombras... Provavelmente era Shadow, mas não tinha certeza. Os braços, peitoral e barriga tinham tatuagens escuras e quando me precipitei em sua direção vi os braços se abrirem para que fosse para seu colo.

— V! Você por aqui!

Me acomodei em seus braços satisfeita com a presença do Ceifador, sentando-me em seu colo e depositando em seus lábios um beijo. Podia sentir os cheiros dele. Havia o cheiro de cravos e de algumas flores, daquelas que se via muito em funerais, mas não conseguia identificar os outros como algo que não “cheiros do V”. Seus braços firmes envolviam minha cintura e nossos olhos se encontraram.

— Oi, amor. Pensei em vir te ver... Pareceu preocupada ontem à noite, quando nos falamos.

Foi quando descobrira que seria difícil escapar do Acampamento para ver meu noivo. Havia enviado uma mensagem de Íris para ele com intuito de conversar um pouco, sem saber ainda o quão atarefada ficaria. Comentei por alto sobre o festival com ele apesar de não imaginar que ele planejasse ficar durante todo ele, mas agora que sabia que meus temores de não poder passar semanas fora tinham fundamento pareceu que era pior ainda.

— Estava um pouco, pra ser honesta. Não sabia quanto tempo o evento ia me tomar e estava preocupada em não poder sair pra fazermos algo.

Não adiantava mentir para ele sobre meus temores, porque o Ceifador parecia capaz de ler nos meus olhos todas as verdades que eu tentava ocultar. Conhecia também os temores das pessoas que era inútil tentar esconder qualquer coisa assim. Além do mais, quem sabe a companhia dele me ajudasse a colocar as ideias no lugar mais fácil do que apenas ficar encarando o tablet?

— Eu fiquei com a parte da divulgação... Achei que poderia fazer alguns flyers, cartazes e essas coisas pra ajudar as pessoas a saberem onde cada coisa seria, as atrações...

Enquanto falava, meus dedos contornaram seu maxilar e desceram por seu pescoço. Sentia sua jugular e os músculos enquanto descia para seu tórax. Seus olhos estavam fixos nos meus enquanto escutava o que dizia. V sabia que provavelmente estava mais distraída com as tatuagens do que realmente pensando em como ataca-lo sexualmente. Shadow saiu das sombras e rosnou tão ameaçadora quanto uma pantera demoníaca poderia fazê-lo, se aproximando da porta quando ela foi aberta. Olhamos para a pessoa que entrava, sendo um rapaz filho de Vênus que recém chegara ao Acampamento.

— A forja tá fechada, Marco. Lembro-me de ter avisado isso. — Falei, olhando para ele com pouco interesse. O filho de Nox me acomodou melhor em seu colo enquanto observava o outro. Indiquei sugestivamente a porta com um ar de “é melhor você sair”, mas é claro que o filho de Vênus teria dificuldade em aceitar o conselho de imediato.

— Cecil, não deveria estar trabalhando nas coisas do evento? Vamos precisar do...

Shadow deu um passo para frente e o filho da deusa da luxuria recuou. Havia escutado sobre o meio-sangue que perdera o braço para a criatura por ter sido rude e acabara de perceber que estava se encaminhando para o mesmo destino que a prole de Cúpido. Com cuidado, me levantei do colo de V e fui caminhando na direção dele. Shadow me olhou e dei um sorriso suave para ela.

— E você não deveria estar em Nova Roma verificando os hotéis disponíveis? Talvez precise de ajuda para se lembrar qual é a direção correta da cidade?

Ao falar, uma esfera de energia azul surgiu em minha mão. Apesar de não ser a habilidade de transformação em animal, pareceu assustar o semideus quase tanto a ameaça de virar um porquinho-da-índia teria. Virou-se depressa e saiu correndo, de modo que pude me aproximar da porta desfazendo a magia e trancar a mesma. Era só uma magia para empurrar o semideus para fora da forja, apesar de provavelmente ele se machucar no processo.

— Só ia empurrar ele pra fora, não sei porque o pânico. Quer ir lá pra cima, amor?

Quando fui para perto dele, estendendo a mão. Não pela primeira vez, meus olhos se distraíram com as tatuagens quando ele aceitou minha mão. Subimos para o andar superior para começarmos o trabalho. Possuíamos uma boa quantidade de bebidas (alcoólicas ou não) e de comidas ali em cima, guardadas em geladeiras ou similares. Servi um pouco de suco de laranja para nós dois e me sentei em uma mesa. Junto comigo estava um tablete, uma caneta própria para manuseio do mesmo, várias folhas de papel A4, algumas canetas esferográficas e lápis para anotações e rascunhos, réguas e outros materiais para que pudesse rabiscar e planejar de modo mais adequado. Estava na hora de iniciar os trabalhos de divulgação e, bem, eu imaginava que seria algo complicado.

O primeiro passo foi realizar um brainstorming, uma vez que precisava de ideias iniciais para começar o projeto. Ia anotando quaisquer ideias sobre cores, estética, fontes, imagens ou formas de realizar a divulgação, ocasionalmente com um V dando alguma sugestão em meio a torrente de ideias. Anotava também riscos, objetivos dos participantes, objetivo do cliente, coisas que faziam com que me recordasse das divindades homenageadas, etc. Anotava também tamanhos, locais onde colocar, pessoas que desejava afetar com cada método... Quando terminei, os papeis sobre a mesa estavam abarrotados de desenhos, palavras soltas. Havia levado mais de uma hora para concluir a parte de reunir ideias e estava na hora de começar a testar o que havia descoberto.

Após o brainstorming, comecei realizar flyers anunciando o evento. Eram projetados para impressão em tamanho A4 e cada um possuía um esquema de cor diferente: tons de laranja para Vesta, tons metálicos para Vulcano, tons de oliva para Minerva, verde água para os anunciando os Jogos Piscatorios, tons de amarelo e prateado para Aurora e dourado para deusa Fortuna. O design visava refletir cada divindade da melhor maneira, de modo que os de Vesta, por exemplo, parecia haver fogo e os de Vulcano buscavam, por meio das fontes e cores, lembrar programas de computador ou placas eletrônicas. Testei outros mais minimalistas, usando fontes menos elaboradas, dando preferencia a apenas duas ou três cores e, no máximo, uma imagem ou gravura para atrair a atenção sem ser exagerado. Havia pouco texto mesmo nestes, apenas com o nome do festival (“Urbam Flamis”), sua data de inicio e fim, local onde ocorreria e algumas das atrações e eventos.

No entanto, ainda estava longe de terminar a realização de todos os modelos e tipos de flyers que precisava fazer. Queria ter ao menos cinco possibilidades utilizáveis para o evento antes de mostrar o que havia idealizado. Sabia que provavelmente não encontraria uma ideia que iria agradar a todos, porém não era esse o meu objetivo também e não me preocupava com algo além do meu controle. Uma vez ou outra, parava um pouco para descansar, beber um pouco de suco e conversar com V. O ceifador estava quieto observando o trabalho, talvez até aproveitando um pouco a calmaria da forja em comparação ao constante turbilhão de missões e trabalhos que fazia normalmente.

「 ★ 」

Se o brainstorming já havia demorado, a confecção de todos os flyers considerando ao máximo as variáveis demorou ainda mais. Fiz apenas os que haviam me soado uma ideia melhor quando os reunia. Quando terminei, dei um sorriso a mim e deixei o tablete sobre a mesa. Recostei-me na cadeira e massageei as têmporas, tentando relaxar um pouco após ter me concentrado tanto nas atividades. Estava com um pouco de fome também e olhei para meu amado, sentindo um pouco de constrangimento. Havia ficado tão distraída com o trabalho que esqueci que ele também poderia estar com fome.

— Hmmm... Quer ir comer alguma coisa? — Perguntei, mordendo o lábio inferior. O sorriso de canto dele fez meu coração bater mais forte e o rapaz se ergueu, me convidando para acompanha-lo. Seguimos de mãos dadas até um restaurante qualquer para comermos e depois fomos namorar um pouco, porque nós dois precisávamos relaxar e queríamos aproveitar o tempo juntos. Acabara por adormecer nos braços dele, acordando apenas na manhã seguinte.

「 ★ 」

Após imprimir todos os modelos e guarda-los em uma posta para ser apresentados aos outros membros da equipe de divulgação, comecei a pesquisar como iria preparar flyers e folhetos em braille. Esperava que houvesse impressoras e tinta suficiente para imprimir tudo aquilo também, porque seria bem trabalhoso. Após garantir que houvesse também um material inicial de divulgação para deficientes visuais e outro grupo de flyers com cores ajustadas para daltônicos, o que levou mais uns dias para ser concluído, juntei eles aos demais produtos de divulgação para serem apresentados.

Três dias após a divisão inicial de tarefas entre a equipe de divulgação e a responsável por verificar estabelecimentos, haveria uma reunião entre as duas. Havia tomado um banho demorado junto do filho de Nox antes dele precisar voltar ao trabalho e me encaminhei para a “central de organização do evento” com a pasta, tablete e a caneta especial para o caso de precisar realizar modificações ou preparar algo na hora. Sabia que sempre poderia haver alguma ideia boa dada por alto durante a reunião e, bem, havia pessoas lá que entendiam mais de cores e como afetavam as pessoas do que eu. Era sempre bom ouvir pessoas que entendem mais sobre alguma coisa do que você quando está trabalhando em algo novo, certo?

Durante a reunião, pude notar os olhares ressentidos de Marco para mim e Charlotte limpou a garganta no meio da reunião, olhando fixamente o semideus com um olhar reprovador em relação a forma que estava se comportando. Estava começando a incomodar as outras pessoas a obsessão por troveis do filho de Vênus. Sabia que a meio-sangue que liderava a equipe de divulgação tinha o conhecimento que provavelmente eu não tinha culpa alguma das reações dele — filhos de Vênus tendem a ser bem temperamentais, não é exatamente culpa de ninguém as reações deles quando rejeitados.

— Algum problema, Marco? Quer dizer algo a respeito do material apresentado ou só está admirando a beleza da Cecil?

O semideus olhou para a cria de Arcus surpreso com a repreensão, achando que ninguém havia notado seus olhares. Sempre querendo ser o centro das atenções e, ao mesmo tempo, não desejando ser repreendido quando faz algo que não deveria. Com cuidado, apoiei o cotovelo sobre a mesa e a cabeça sobre a mão aberta enquanto olhava o semideus.

— Nenhum problema, Charlotte. Só estava me perguntando como a Cecilia conseguiu tempo para preparar essas coisas enquanto ficava se agarrando com o namorado... Não pagou ninguém pra fazer pra você não, né, Cecil?

Havia um tom acido em sua voz e, bem, a maioria sabia bem que estava mais tentando irritar do que realmente achava que a acusação era real. Dei um sorriso frio para ele enquanto observava seus olhos. Eu deveria ter deixado Shadow se divertir um pouco com ele antes de colocar o meio-sangue para correr da forja.

— Não sou você, Marco, e minha vida sexual não lhe diz respeito. Recomendo que volte sua atenção ao trabalho ao invés de ficar se ressentindo porque tomou um fora. Charlotte, eu não tenho muita certeza se sobre como vamos preparar a organização dos dias de evento... As atrações, mais especificamente.

Marco explodiu de raiva com o pouco caso que fiz dele, deixando claro que não me incomodava com o orgulho e masculinidade fraca dele. O mesmo tentou me atacar com alguns espinhos. Filetes de sangue escorreram de onde os espinhos passaram de raspão e/ou entraram na pele e romperam a pele. Não prestei muita atenção nas palavras que os outros disseram, apenas produzi uma esfera de energia e lancei contra o peitoral do semideus. Quando o atingiu, o mesmo foi jogado para trás. O caos estava instaurado e me levantei, recolhi minhas coisas e olhei para Charlotte.

— Com todo respeito, Charlotte, mas para mim já deu por hoje. Vou estar na forja, se precisarem. Qualquer coisa, a Akemi ou o Kuma devem estar no laboratório e podem te deixar passar pra forja.

Retirei-me do local e voltei para a forja, onde sentia-me mais confortável do que na sala de reuniões. Tranquei a porta e fui para o segundo andar trabalhar em algumas mudanças que haviam sido sugeridos e cuidar de alguns cartazes com alterações que haviam sugerido. Eram coisas poucas, como inverter umas cores, clarear outras, ajustar o tamanho de alguns textos... Por que eu tinha que estar na mesma equipe daquele idiota?

Organizando um Evento — É preciso muita coisa para organizar um festival, como montagem de estandes, sistemas de som, divulgação das atividades, preparação dos principais pontos do evento... Todos do Acampamento e muitos dos moradores de Nova Roma estão envolvidos com a preparação do mesmo e, bem, você foi o sorteado para ajudar na tarefa da publicidade — seja com folders, panfletos, placas informativas, guia turístico, etc. Boa sorte, semideus.
Recompensas: 700 de XP e Dracmas/Denários + 15 Insígnias de Fogo.

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